Desde a revelação feita pelo jornal O Globo de que o Brasil só fica atrás dos EUA no número de chamadas telefônicas e atividades na internet monitoradas pela Agência de Inteligência Norte-Americana, a NSA, muito tem sido discutido sobre como o país poderia garantir uma segurança de informações maior para seus cidadãos e empresas atuantes no território.
Na última quinta-feira (11), o ministro das Comunicações, Paulo Bernando, afirmou que o país deve lançar um novo satélite nacional e construir novos cabos submarinos ligando o Brasil à Europa e à África. A ideia é diminuir a vulnerabilidade do país a interceptações e monitoramentos operados pelos Estados Unidos.
Segundo o professor de Redes de Computadores da FIAP, Almir Alves, engenheiro eletrônico, técnico em telecomunicações e consultor de segurança para empresas que sofreram com ataques hackers, o Brasil possui uma barreira menor do que deveria quando o assunto é a segurança na entrada e saída de informações através das redes de internet e telefonia que passam pelo país.
A rede mundial de internet e telefonia utiliza uma série de cabos de fibra ótica subterrâneos e submarinos para realizar a distribuição das informações através de diferentes países do planeta. Esses cabos possuem variadas extensões e capacidades de transmissão e passam por diferentes países para auxiliar na distribuição da informação. Um mapa interativo com os todos os cabos existentes no mundo, além de suas extensões e capacidades de transmissão, pode ser visto nesta página.
Segundo Alves, durante ligações internacionais, a informação sempre vai utilizar as redes mais livres para chegar do ponto de partida ao ponto de chegada. Isso quer dizer que uma ligação que parta da China com destino ao Irã, por exemplo, poderia ter o Brasil como intermediário: através do cabo “BRICS”, que deve entrar em funcionamento em 2014, a ligação poderia passar pela China, Índia, Africa do Sul e Brasil, para depois seguir pelo cabo “Atlantis-2″, do Brasil para a Europa, onde a ligação poderia seguir por dentro do continente até o Irã.
Segundo Alves é neste ponto que o Brasil ainda possui uma infra-estrutura de segurança falha. “Ao passar pelo Brasil, tem-se uma região com menos controle de segurança, então fica mais fácil monitorar o que passa por aqui”, afirma. Para ele, é importante que se fortaleçam os portões de entrada e saída dos Backbones brasileiros, com o objetivo de deixar que qualquer tráfego de dados em rede nacional fique registrado, como a tentativa de acesso de um órgão internacional. “Hoje tudo fica registrado, mas não há um departamento específico para o controle disso, o equivalente à NSA”. Por se tratar de uma questão de segurança nacional, Alves opina que esse projeto poderia até ser promovido pelas forças armadas.
A questão de segurança passa também pela falta de infra-estrutura de tecnologia no país quando o assunto é Data Centers, por exemplo. Para Alves, os custos altos de manutenção de armazenamento de dados aqui no país motiva grandes empresas a realizarem o armazenamento em nuvem, em servidores que ficam fora do Brasil. Atualmente, o Brasil gasta cerca de US$ 650 milhões por ano com o tráfego da internet com os Estados Unidos.
O resultado disso é que diversos dados de empresas nacionais ficam à mercê de leis de outros países e correm risco de sofrer roubos de dados, já que estão armazenados em território estrangeiro. “Se existe uma pessoa que está por trás do controle de onde estão meus dados no Data Center, como a empresa pode me garantir que essa pessoa não vá usar esses dados para tirar vantagem? Dentro da minha infra-estrutura, o máximo que pode acontecer é o meu funcionário manipular uma informação”, opina Alves. “Se acontecer lá fora, mesmo que eu processe, eu já perdi a batalha”, finaliza.